Por que abordar a crise climática do jeito errado é tão perigoso quanto não abordar

Na última sexta-feira (17), Alan Severiano e Jacqueline Brasil, apresentadores do SP1 da Globo, trouxeram um toque descontraído à abertura do telejornal. De maneira inusitada, iniciaram o programa discutindo as elevadas temperaturas, sentados confortavelmente em cadeiras de praia, com óculos de sol, simulando um dia à beira-mar. No entanto, essa abordagem peculiar gerou um debate entre o público, muitos dos quais expressaram inconformidade, acusando os jornalistas de tratamento inadequado e negligência diante de uma questão tão crucial como a crise climática, considerando o calor extremo como um sintoma evidente dessa crise.

“Sextou! Véspera de feriadão e a gente está por aqui. Estamos na praia ou não estamos, Jacqueline Brasil? Faz de conta que estamos na praia nesta véspera de feriadão”, comentou Alan Severiano. 

“Esse céu azul… Vai ser mais um dia quente no litoral e aqui na capital, onde as temperaturas vão ficar maiores que ontem. Previsão para hoje? 36 graus. Tá bom para você, Alan?”, respondeu Jacqueline. 

Atualmente, um dos tópicos mais abordados pelos veículos de notícias tem sido as questões climáticas e seu impacto na experiência humana na Terra. Apesar de ser um tema recorrente em todos os meios de comunicação, a cobertura da crise climática ainda não atinge a profundidade necessária. Um exemplo recente que ilustra essa dinâmica foi o recorde de temperatura registrado no Rio de Janeiro, atingindo uma sensação térmica de quase 60 graus. Apesar de ter sido amplamente noticiado por diversos veículos de notícia, a abordagem predominante foi a de simplesmente sensacionalizar o feito, negligenciando uma análise mais aprofundada do contexto e das implicações desse evento climático extremo. 

O fato de os jornais constantemente noticiarem recordes de temperatura ainda não é suficiente para incutir um senso de urgência em relação às questões climáticas. É ainda mais preocupante quando essas abordagens, além de superficiais, correm o risco de normatizar eventos que estão completamente fora da normalidade e representam uma ameaça real para a humanidade. 

A ausência de explicações detalhadas e da conscientização sobre as causas e consequências desses eventos, que ameaçam a vida humana e vão em direção à degradação ambiental, tem se mostrado um desafio significativo. A problemática climática deve transcender a mera previsão do tempo para esta semana; o jornalismo precisa se responsabilizar por estabelecer conexões entre essas questões e o comportamento da indústria em relação à degradação ambiental, assim como o papel do Estado na fiscalização e educação da população sobre questões ambientais.

Abordar a crise climática de maneira apática é tão preocupante quanto simplesmente evitar o assunto. Quando as pessoas não estão cientes, é menos provável que tomem medidas. No entanto, quando se conformam e normatizam a situação, pode ser ainda mais desafiador retirá-las desse estado de complacência e zona de conforto, considerando a inclinação do homem para se conformar com aquilo que deveria ser corrigido. Uma abordagem inadequada pode levar a respostas inadequadas da sociedade. A falta de um entendimento claro sobre as causas e consequências da crise climática pode resultar em uma resposta pública errônea e, consequentemente, em atrasos nas ações necessárias.

Texto por Victória da Silva

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