A vergonha da gestão 2018-2022
A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Messias Bolsonaro representou um período de reconstrução para a imagem internacional do Brasil.
É difícil sequer imaginar a vergonha colossal que o país enfrentou sob a gestão de Bolsonaro. A quebra sistemática de tradições diplomáticas multilaterais, como o voto a favor do embargo financeiro a Cuba em 2019 e a clara afiliação a Israel, mostraram a desconsideração do antigo governo em matéria de valores.
A diplomacia brasileira se consolidou em bases fortes, sólidas e confiáveis na política internacional, que remontam à Primeira República (1889-1930) e à Redemocratização (1985 em diante). Todo o foco no desenvolvimento nacional, na aliança com países em desenvolvimento, no equilíbrio de lados, na aquisição da paz e na participação ativa de importantes iniciativas como a cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul) e a cooperação Sul-Sul foram “pro lixo” nos quatro anos do governo de Bolsonaro.
Ao invés de se projetar como ator global, mediando conflitos e manifestando-se em escala regional e transnacional como tinha feito até então, o país abraçou os Estados Unidos e o aplaudiu, configurando-se como uma “diplomacia de vassalagem”, segundo o periódico da Universidade Estadual do Ceará, enquanto atirava pedras no governo chinês que, inclusive, era seu maior parceiro comercial.
O “renascimento” da política externa e a indecisão de Lula
O dramaturgo francês Philippe Destouches disse certa vez: “os ausentes nunca têm razão”.
Essa frase é mais verdadeira do que nunca, quando se trata da política externa brasileira (PEB) de 2018 a 2022.
Lula assumiu o terceiro mandato com enormes desafios. Determinado a apagar o passado sombrio de seu antecessor, em menos de 1 ano de gestão o presidente fez uma reunião em tempo recorde com os países latino-americanos, na proposta de uma moeda-local com a ajuda dos BRICS, como forma de ganhar terreno na diplomacia em desgaste.
Foi um bom começo. Mas sua postura incerta e ambígua sobre os conflitos mais evidentes do século 21 puseram dúvidas sobre a posição do País no cenário global.
O Brasil buscou assumir uma atitude de neutralidade frente a um dos mais complexos conflitos da atualidade: a guerra na Ucrânia. Buscando nem condenar um lado nem outro, o presidente brasileiro acabou por condenar os dois por não tomarem partidos pela paz. Como de praxe, Vladimir Zelensky, presidente ucraniano, fez duras críticas ao petista. “As declarações de Lula não trazem paz alguma”, afirmou. Mas qual lado escolher, se ambos estão errados?
As afirmações de Lula são exemplos da tentativa de reestruturar e restabelecer o Brasil como mediador internacional, reputação obtida a duras penas pelo País. Mas até que ponto essa “isenção” é benéfica?
A nova administração é, de fato, melhor estruturada que a anterior. Sua visita a 30 líderes estrangeiros em seis meses de governo evidencia uma preocupação clara com a projeção internacional do Brasil. Porém, a guerra entre Israel e Hamas prova que atitudes pendulares, que criticam palestinos e israelenses, não dizem nada além de “não desejo me envolver, obrigado”.
Por mais que o direcionamento do governo seja coerente com sua tradição na política externa, ela custa caro ao não oferecer um posicionamento claro do Brasil sobre os problemas que atravessam o mundo.
Num tempo onde o Estado brasileiro assumiu a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, é cada vez mais urgente a necessidade de dar voz e se posicionar.
Porém, estamos no começo. Temos ainda alguns anos pela frente. E só o tempo dirá se a política externa brasileira se firmará novamente.
Por Gabriel Cosendey, sob orientação da professora Ivana Barreto.